segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Evangelho Segundo Jesus Cristo


O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991) é um romance de José Saramago que conta a história da vida de Jesus de uma maneira moderna e crítica da religião

A história inicia-se com a crucificação de Cristo, ou melhor, da interpretação do autor da imagem da crucificação. José Saramago começa a narrar a vida de Cristo com a morte, o sofrimento, que precede e sucede a narrativa em torno de Deus, do diabo e de Cristo.

O ponto mais relevante e polémico da história é ver Maria e José resumidos a personagens literárias comuns. Cristo ter sido semeado do acto carnal, fruto do desejo de José e do dever da sua esposa Maria, ainda que não menos agradada com a consumação.

Polémicas à parte este livro demonstra o incrível talento de José Saramago a contar histórias que torna o livro consistente e cada vez mais aliciante ao longo da narrativa.

De todos os momentos desta narração, o encontro num barco entre Deus, Cristo e Diabo, todos eles figuras humanizadas, é o que merece mais destaque e o que mais desassossega os leitores. Quando Jesus olha e sentado na popa do seu barco está Deus. Não como da primeira vez que o vira, uma nuvem, uma coluna de fumo, este era agora um homem grande e velho que lhe vinha pedir que cumprisse aquilo que Ele desejava enquanto Jesus lhe perguntara quem era ele afinal, o filho de Deus?, ou o filho do homem? Na sua impaciência Deus ordena-lhe que o ajude nos seus planos, na sua glória que provirá, e Jesus, um Homem sábio, não percebe como pode Deus omnipotente e omnipresente precisar de ajuda. Nisto sobe ao Barco outra figura que era familiar aos dois, o Diabo. Porque tudo o que interessa a Deus interessa ao Diabo. E Deus explica então a Jesus que fez os homens à sua imagem e semelhança, como tal a insatisfação desses há-de ser eterna, e cada vez mais exigente, mais urgente, como sua própria. E como tal já não lhe interessava ser Deus dos Judeus, Deus cria mais, tanto quanto a visão do futuro podia alcançar. Afirmava que iria a passar de deus dos Hebreus a deus dos que chamaremos católicos, à grega. E precisarei de ti, meu filho, para o papel de vítima, de mártir, que é o melhor para fazer espalhar e afervorar uma fé – afirmava. Diabo contemplava então Cristo com uma expressão de involuntária piedade como a que perguntar: porquê? Cristo a antecipar o seu sofrimento imaginado nas palavras proferidas por Deus não entendia e perguntava a Deus se não seria mais fácil Ele ir à conquista da própria glória, se ele não poderia fazer os milagres por si, se não poderia, simplesmente, ajudar quem precisasse, afinal era Deus, bastava um pensamento para curar a cegueira, para meter moedas na porta de alguém, para que seria necessário sacrificar à tortura da dor física o seu único filho na terra? Não lhe serviria apenas ajudar? – Interrogava-se Jesus. Não! Ele precisava que soubessem dele para que o adorassem. Se homem se erguesse no pique da sua doença esse iria supor que fora só ele que esmagara a doença, e isso anulava a crença, não o faria tremer perante Deus. Sempre Deus e o seu protagonismo! O pensamento que surgia não podia ser outro. Por mais que a ideia aterrorizasse Jesus não havia nada a fazer na medida que o Deus logo lhe deu o exemplo do cordeiro que sempre esperneia não querendo aceitar o sacrifício a que é legado, mas que cumprirá por fim o seu destino.

Percebe-se então que a fé sempre exigiu sacrifício seja ela qual for. Porém extremista e sempre ligada à solidão, como Jesus que morre crucificado por capricho daquele que o criou à sua semelhança e disse: “Crescei e multiplicai-vos.” Nunca deixando obedecer ao pedido.

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